O café espatifou-se no chão. Escorreu feito raio pelas frestas das cerâmicas. Apertava a caneca como se ainda pudesse salvar alguma coisa. Intacta. Pelo menos isso. Mas e o e-mail? O projeto? O emprego?
“Tem um sol para cada um”, como dizem em Natal. A reclamação correu pela sala e voltou, virando duas. Não importa, ela precisava de um café. Quente. Forte. Rosso. “Un espresso adesso”, decretou como se eles fossem ouvir. Eles que aguardem, afinal ela só funcionava depois de ver o fundo da caneca com aquela linha marrom-avermelhada correndo no cantinho.
Era o tempo de esvaziar sua caneca e o e-mail já deveria ter sido enviado. Era isso ou estaria fora do projeto, na certa. Amarrou o cabelo, sacudiu os braços para se impor a energia que não tinha e rumou para a cozinha.
A cafeteira italiana, sua única companhia, esperava para lhe entregar meio litro de espresso con una crema perfetta. Enquanto água e pó de um café fundiam-se no néctar dos deuses, ela se perdeu na paisagem da janela. Meio corpo largado na bancada.
Ao intervalo de uma respiração a casa tinha um outro perfume. Dava para sentir o gosto no ar. Começou o café ali mesmo, afinal, uns minutinhos a mais não vão fazer diferença. “Eles podem esperar. Culpa do sinal. A internet está de jeguinho hoje. Todo mundo tem seu dia de sinal ruim", contou para a caneca.
Perdeu-se mais uma vez. Caneca. Janela. Caneca. Janela. Sabe-se lá quanto tempo passou quando, de relance, avistou sua mesa. Lembrou-se do e-mail, do projeto, do emprego. Lá fora, o dia já estava de outra cor.
“Eu consigo. Vai dar tempo, escrevo isso em minutos. Já fiz coisas muito mais complexas em pouco tempo. Pressão aumenta a criatividade. É isso!", tentou se motivar já ofegante. Correu. É… correu, porém, mais que as pernas. A dois, três passos de chegar à sua mesa, tropeçou em si. Espremeu a caneca. Era a sua preferida. Salvou a caneca, contudo, viu seu espresso rosso ganhar o chão.
O e-mail, o projeto, o emprego. Agora o chão. E sua caneca. Tinha menos tempo que antes, a mancha ganhava vida pelas frestas da cerâmica. Deixou a caneca ali mesmo, no chão, afinal, do chão ninguém passa. Pisando duro, quase bufando, arrastava o pano. Mais essa, limpar o chão! Ia se irritar. Ia xingar. Ia… Entretanto, o corpo desmontou antes. Quando abaixou-se para impedir que o café seguisse sua rota, encontrou o que mais precisava nesse momento. Relaxar.
Relaxar em uma festa na piscina. Melhor coisa para o momento. Sentou-se escorada na mesa onde deveria escrever o e-mail e aproveitou. A vizinhança estava toda lá, falantes e mexeriqueiras, se esbaldando. Já que iria demorar mesmo para tomar todo o café lambendo cada gota que escorria pelo dedo indicador, aproveitou o tempo para trocar ideias com as formigas do que faria daqui para frente. “O e-mail??? O proj… o empre…", meio pensamento passou. Sorriu. A caneca está inteira. Isso que importa.
Imagine…
Imagine que uma pessoa te contou essa história ontem.
"Uma colega de escritório precisava mandar um e-mail urgente, mas estava cansada. Foi até a cozinha, fez um café e se distraiu olhando pela janela. Quando percebeu, o tempo tinha passado. Correu para a mesa, tropeçou e derramou o café no chão. Irritou-se, mas depois relaxou. No fim, ficou feliz porque pelo menos sua caneca não quebrou."
Porém, mais tarde você encontra outro amigo que também soube dessa mesma história que você acabou de ler e resolveu te contar.
"Uma moça precisava mandar um e-mail urgente, mas antes decidiu tomar um café. Preparou a cafeteira, distraiu-se olhando a janela e perdeu a noção do tempo. Quando percebeu, correu para a mesa, mas tropeçou e derramou o café. Irritou-se, mas ao limpar, relaxou e aceitou a situação."
Tem histórias e histórias
Agora me diz: qual das três versões te envolveu mais?
Qual delas te fez sentir o cheiro do café, ver a cena acontecendo, quase tropeçar junto com a personagem?
Eu imagino que a primeira versão te puxou para dentro da história.
A segunda e a terceira… bem.. elas só te contaram os fatos.
Isso acontece porque nossa mente não se conecta com informações soltas, mas sim com narrativas bem construídas. É por isso que bons filmes, livros e até propagandas nos prendem tanto.
Essa diferença — entre simplesmente contar e contar com emoção e detalhes — é o que transforma uma simples história de um café derramado em algo que nos envolve e nos faz sentir como se estivéssemos vivendo a cena.
Isso é storytelling!
Na vida, o storytelling não só nos ajuda a engajar mais com as histórias dos outros, mas também com nossa própria história. Ele nos ensina a ser mais presentes, a valorizar os momentos e a perceber os detalhes que fazem a diferença no nosso dia a dia.
Quem não preferiria estar na história da moça com o café derramado, sentindo o que ela sentiu, do que apenas saber que ela se atrapalhou e derramou o café?
Vamos ver por dentro da história?
Mas o que tem na primeira versão que torna a história mais emocionante, fazendo-nos até “sentir” o cheiro e o gosto do café?
O que nos faz torcer pela moça para que ela consiga escrever o tal e-mail e salvar seu emprego?
E porque sentimos até um certo alívio quando a caneca preferida é salva no meio do tombo?
Além, é claro, de um final que ninguém imaginaria no começo da história.
O que faz tudo isso é o storytelling.
Na primeira versão, usei várias técnicas de storytelling.
Vamos conhecer algumas delas:
Imersão sensorial: eu trouxe cheiros, texturas e ritmos do dia da personagem.
Ritmo narrativo: alternei momentos rápidos e lentos para criar impacto.
Personagem ativa: não é só uma pessoa derramando café, mas alguém com um dilema. Um dilema que mudaria sua vida.
Conclusão inesperada: em vez do clichê "tudo deu certo", o foco está na mudança de perspectiva. Isso transforma até o momento mais banal em algo interessante.
E porque estou te contando tudo isso?
Você pode estar pensando que esse tal de storytelling é coisa de escritora e storyteller. É coisa de quem trabalha com as palavras, com copywriting e ficção, como eu. Coisa de roteirista de Hollywood!
É aí que você se engana. Talvez você nunca tenha ouvido falar nessa palavra, mas posso te garantir que ela pode mudar sua vida. De verdade!
Parece promessa de ano novo, mas vem comigo que vou te contar uma coisa.
Storytelling não é só para escritores.
Todos contamos histórias o tempo todo:
no trabalho, em conversas, até nos nossos pensamentos.
Contamos histórias para vender um produto, um serviço e até para convencer alguém.
Saber contar bem uma história pode te ajudar a:
✅ Escrever e-mails mais envolventes.
✅ Criar posts que prendem atenção.
✅ Fazer apresentações que ninguém esquece.
✅ Até tornar sua rotina mais leve – porque às vezes a vida é só uma caneca de café salva no último segundo.
Lembrem-se:
Se a sua história não marca, ninguém vai se lembrar nem da história, nem de você.
Se você gostou de saber um pouco mais sobre como contar boas histórias, vem comigo.
Quero explorar mais storytelling aqui, mostrando como pequenas mudanças no jeito de contar algo podem fazer toda a diferença.
Eu fiz isso com meus alunos no CLIMUS, o meu clube de leitura, no ano passado. Os encontros foram presenciais, no parque da cidade (lembrei do Renato Russo e entreguei minha idade, rsrs).
As rodas de leitura e o workshop de storytelling e escrita criativa que ministrei para os leitores, também foram presenciais.
Agora, eu quero trazer a experiência do CLIMUS para todos vocês:
os meus leitores do Vou te Contar.
Assim, todos nós lemos boas histórias e aprendemos tudo sobre como contar boas histórias. Feito os escritores do passado que mandavam suas histórias e comentários para amigos e outros escritores em uma rica troca de cartas.
Enquanto eu estudo e me aprofundo ainda mais em storytelling vou te mostrando o que tem por dentro das histórias. É um mundo fascinante! Você vai ver.
Eu testo o que aprendo, erro, conserto e aprendo de novo.
Melhoro meus contos, minhas histórias e minha escrita para contar histórias melhores para você.Vasculho livros à procura de contos de grandes escritores para compartilhar com você e vou te contar quais técnicas nós usamos (eu e os mestres do passado), e como isso pode te ajudar no seu dia a dia.
Vou escrevendo um livro aqui, enquanto você lê cada página e me conta o que achou daí. Afinal, a sua opinião importa e muito.
A gente se diverte, se emociona com uma boa história e de quebra aprende tudo sobre storytelling.
E, claro, bate um papo sobre cada história e conceitos.
Quero muito saber sua opinião sobre cada página.
E aí, o que achou da ideia?
Vamos de mala e cuia para a terra das histórias todo fim de semana?
Já tinha pensado sobre o poder do storytelling?
Me conta: você já percebeu como histórias bem contadas mudam tudo?
Até a próxima carta.
Andiamo!
Karine Oliveira
P.S.1. Deixe seu comentário. Vou adorar ler.
P.S.2 Aqui está o livro que escrevi com minhas amigas. Comprando o nosso livro ou qualquer outro produto na Amazon por esse link você apoia meu trabalho e não paga nada a mais por isso. Você dá um empurrãozinho para a Amazon me apoiar.
Obrigada!😊
P.S.3 Essa história é uma cortesia para você!
Alguns conteúdos aqui são exclusivos para assinantes pagos.
Vale a pena fazer parte desse grupo!